quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Andróidezinho da mamãe!


Quando eu era criança, minha mãe me dava banho e cuidadosamente escolhia a roupa que eu ia vestir. Eu poderia estar me achando ridícula e brega com a roupa, mas a usava do mesmo jeito, questão de respeito e obediência. Nunca, mas nunca mesmo, ousava levantar a voz para a minha mãe ou para o meu pai, senão a surra comia feio. Antigamente não tinha esse negócio de dar birra pra conseguir as coisas não, se começássemos com uma ceninha do tipo, nossas queridas mãezinhas vinham em nossa direção, segurando numa das mãos, ou um chinelo (pouco provável, dói menos), ou uma cinta (mais provável, dói pra caramba) ou uma vara de amora (quase sempre usada, tem o poder de estraçalhar nossa carne jovem), e a outra mão ficava livre para segurar nossos braçinhos franzinos, evitando uma possível tentativa de fuga. E se persistíssemos no pranto, ela se virava e, apontando o objeto de tortura em nossa direção dizia – engole o choro moleque, ou vai apanhar mais – daí respirávamos fundo e ignorávamos a dor pra não ter que sentir ainda mais.


Hoje a história é um pouquinho diferente, os filhos são mimados, respondões e birrentos. A roupa é do gosto deles, aí daquele que tenta vestir algo neles que não é de seu próprio gosto. Eles aprenderam a dizer não; se não querem, não fazem, nem debaixo de reza brava. Discipliná-los está cada vez mais difícil. Conversar é impossível, não tem mais diálogo, o máximo de conversa que se tem hoje em dia entre pais e filhos se dá, quando o “guri” se vira e diz – eu odeio você mãe! –, ou - eu odeio você pai! – ou então - vocês são ridículos, ODEIO vocês! Dar umas palmadinhas então, agora é caso de polícia, eles podem levantar a mão e a voz para te agredir, e você tem que fazer cara de paisagem e ainda dizer – calma filhinho, a mamãe vai comprar pra você!


Outro dia eu voltava do trabalho de ônibus, e observava uma menininha de mais ou menos uns sete anos de idade, que estava sentada juntamente com sua mãe bem na minha frente. Apesar da pouca idade a peste já se achava dona do próprio nariz, apontava o dedo na cara da mãe e dizia, “eu quero isso e você vai comprar pra mim”. Eu fiquei escandalizada com a cena, pensava comigo mesma “isso não pode ser uma criança, isso é um andróide” (foi a expressão que encontrei, que mais se encaixava com atitude fria e prepotente daquela criança).


Eles estão ficando cada vez mais difíceis e autoritários, e isso tudo acontece porque seus o caminhos estão livres de proibições. Desculpem-me a honestidade, mas, infelizmente, nossos papais e mamães de hoje inverteram os papéis. Para suprir a ausência na vida diária de seus pimpolhinhos, os pais se empenham em não desagradá-los, enchem seus filhinhos de atividades o dia inteiro, de pilhas e mais pilhas de brinquedos, enfiam logo uma chupeta na boca do guri quando ele começa a berrar, e se o cut-cut da mamãe se aproxima e fica grudento, manhoso e carente, tratam logo de empurrar, guela abaixo, um litro de leite quente com alguma mistura, como se o único motivo do choro incontrolável, da carência excessiva e do grude fosse fome.


Se as crianças estão virando andróides é porque estão sendo tratadas como seres sem sentimento algum, tendo sua percepção subestimada pela maturidade de seus próprios pais que dizem estar fazendo o melhor por eles, nas mamadeiras, óleo ao invés de leite, e no lugar do amor, carinho e atenção, milhares de atividades pré-programadas. A culpa não é do governo que proibiu as palmadinhas educativas, mas sim da geração “piloto automático” que transferiu a criação de seus filhotinhos para alguéns e/ou lugares “especializados” para tal tarefa. Nada substitui a presença e o cuidado de um pai e de uma mãe, e nossas crianças sabem muito bem disso.


' Glenda Barros