sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Programa de Índio...



“O lugar é lindo! Eu vi as fotos no site. Tem piscina, playground para crianças, um chalé no meio do lago, lugar pra pesca esportiva e até um restaurante com os mais variados tipos de pratos...hummm...uma delícia de lugar!”

Essas palavras alucinadoras despencaram da boca de minha prima, e caíram perfeitamente na nossa vontade louca de descansar e curtir o feriado. Cheios de fé, cruzamos o estradão desse meu Goiás sem porteira, deixando pra trás o estresse da cidade grande, a borracha dos pneus no asfalto escaldante e a monotonia do dia-a-dia.

Chegando ao dito lugar, um senhorzinho baixinho, pançudo e meio careca nos recebeu com um largo e simpático sorriso de três dentes e uma frase bem típica da região: “Baum? Quié que ocês manda?”
Empolgadíssima e ansiosa perguntei “quanto é pra entrar moço?” (ainda fui simpática, chamar aquilo de moço foi duro!) “Uai, apenas dér reaus!”, pensei com meus botões coloridos e saltitantes “que maravilha, é baum, e é baratim...baratim...!” (percebam que o lugar começou a me afetar)

Agora, caro leitor, sugiro que imagine uma cara de espanto. Imaginou? Agora incorpore essa cara que você imaginou à seguinte frase, “aquela taperinha no meio desse lago podre é o chalé?” Subentende-se que o lugar não era lá essas coisas. Piscina? Tinha sim, uma só, de mais ou menos três metros quadrados (enorme!), o lago fedia peixe podre e a comida do restaurante faltava sair andando sozinha, ou melhor, voando, nunca na minha vida vi moscas como aquelas, eram mutantes, enormes e verdes, os olhos pareciam a logo da rede globo de televisão, arregalados e ameaçadores em direção ao nosso prato. (credo!)

Longe da civilização e sem muitas opções, resolvemos ficar por ali mesmo e arranjar o que fazer. Colocamos nossos biquínis, maiôs, e os rapazes suas sungas; (alguns tímidos ficaram no discreto shorts) e seguimos para o Tietêzinho (apelido carinhoso, fazendo menção ao odor produzido pelo lago). O lago era fedido, mas era frio, e com aquele calor infernal, que dava pra esquentar marmita ao ar livre, não tínhamos outra alternativa senão nos render as águas sebosas e escuras daquele lago (Detalhe, a escuridão lago não indicava sua profundidade, era sujeira mesmo, a água mal cobria nossos joelhos).

Ficamos por ali o dia todo, jogando água na cabeça com uma canequinha improvisada, juro que podia se ouvir o tsiiiiiii da água fria tocando o corpo quente. Como resultado desse dia de cão, tivemos algumas unhas quebradas, insolação, dores abdominais, escoriações e alguns traumas. “Felizmente” não foi de todo ruim, terminamos o dia no trono, coroados pela experiência e reinando majestosamente sob o nível mais alto do fundo da fossa....

Isso é o que eu chamo de programa de índio, mas afinal de contas, quem nunca fez um programa de índio que atire a primeira flecha!



'Glenda Barros