segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O resgate dos sutiãs


Glenda Ribeiro

Na luta por direitos iguais a mulher foi perdendo a delicadeza, a sutileza, a beleza de ser como se é. Um padrão todo distorcido, confuso e exigente demais foi criado por nós mesmas. A pele tem que ser perfeita, sem manchas, sem marcas de riso, lisa, esticada, viçosa, acetinada, resumindo, cara de rica. 
O corpo tem que ser magro e sem muitas curvas, melhor se for alto e longilíneo, ou pode ser tudo ÃO, bundão, peitão, pernão e se não apresentar as terríveis e temidas estrias e celulites, ai sim, respiramos QUASE aliviadas, pois sempre vamos ter um corpo QUASE perfeito. 
Esse mesmo padrão de beleza transformou o nosso corpo em um objeto, nos penduram em bancas de revista completamente nuas, ou na “melhor” hipótese nos erguem ao mais alto ponto de um outdoor seminuas, nos oferecendo a preço de nada.
Num tempo não mundo longínquo éramos musas inspiradoras de belas poesias, hoje em dia somos chamadas de cachorras e poposudas na maioria das canções, e ao invés de nos indignarmos, abanamos o rabinho e dizemos au au au...
A queima dos sutiãs em praça publica nos libertou da opressão machista e nos garantiu mais dignidade e respeito, mas infelizmente só valorizamos a liberdade; a dignidade e o respeito estão ficando em segundo plano, ou em plano nenhum.
Está na hora de resgatar os sutiãs, e jogar na fogueira esse senso de valor deformado, esses padrões de beleza deturpados e trazer de volta a delicadeza, a sutileza e a beleza de ser mulher.