sexta-feira, 17 de setembro de 2010

nOo BalançOo dOo BusãOo...

Como fala essa criatura! Quanta saúde nessa língua! Essa era a frase que ecoava no meu pensamento, enquanto eu observava aquela boca cheia de dentes tagarelando intermitentemente. O sol à pino bem no meio do céu azul, aquilo tava mais pra uma lata de sardinha que um veiculo destinado ao transporte de gente. O busão tava lotado!

Aquele ser irritante falava, e falava, e continuava falando e emitindo grunhidos exagerados e escandalosos, que imitavam o som de um sorriso. Nas extremidades da boca, iam se acumulando uma espécie de pasta espessa e borbulhante, de cor branca, sim, era saliva...

Vez ou outra ela parava para respirar e aproveitava para sugar escandalosamente todo aquele cuspe para dentro da boca. Como uma pessoa pode ser tão feliz assim dentro de um ônibus lotado? Pela primeira vez na vida eu me irritei com a felicidade alheia.

A situação já tava ruim, pensei comigo, “não pode ficar pior”, e descobri que não é só em filme ou desenho animado que ao pronunciar essa frase o que era ruim fica ainda pior. Pois é, um fulaninho, que pra variar não tinha nada melhor pra fazer, resolveu degustar bem ali do meu lado um pacote daqueles salgadinhos cheios de corante e gordura trans.

Tem de todos os sabores, pizza, bacon, presunto, queijo, mas para minha alegria estomacal aquele era sabor CEBOLA. Como alguém normal consegue comer um negocio desses? O cheiro é uma mistura de pum e vômito, e o barulho que isso faz dentro da boca é insuportável e repetitivo....crot...crot...crot...


Minha casa nunca esteve tão longe, eu respirava fundo e mentalizava; "Não, isso não está acontecendo, eu não estou aqui, não estou passando por isso". Desejei com toda a minha alma ter o poder de me tele transportar, mas a imaginação não mudou a triste realidade, não adianta, ônibus é sinônimo de desconforto, de deselegância.

Pra minha sorte aquela luz forte e amarelada brilhou em forma de curvas sinuosas, transcrevendo palavras verdadeiramente revigoradoras para minha esperança (PARADA SOLICITADA), enfim meus pulmões receberiam gás oxigênio “puro” e meus ouvidos sentiriam o doce toque do silêncio.

Desci libertada, nasci de novo quando meus pezinhos tocaram o asfalto fulminante. Se fosse mais perto eu até arriscaria ir a pé, mas não, não sou assim tão atlética. Senti inveja dos que vão de trem, pelo menos é mais poético. Então, se não tem outro jeito, amanhã tem mais, no mesmo "bat" horário, no mesmo "bat" busão.


'Glenda Barros