quarta-feira, 25 de agosto de 2010

CARA DE PAISAGEM...




Acho que a inveja é um demônio, que vê sua própria imagem refletida e fica tão horrorizado com o que vê que fica arranhando e se estranhando diante do seu próprio reflexo, como um gato diante de sua imagem no espelho. Falar palavras negativas e pessimistas no intuído de sufocar os sonhos alheios é uma característica dessa entidade das trevas, que esperneia, raivosamente, sua inferioridade e podridão como sentimento quando visualizam o bem do outro.

Pessoas invejosas são dignas de pena. Pra esse tipo de gente, a felicidade alheia é algo insuportável de se ver, quem nunca foi vítima de gente assim, atire a primeira pedra! Em todo lugar se vê pessoas assombradas por esse tipo de sentimento, e o que é pior, essa praga tem adquirido proporções pandêmicas.
Outro dia, saindo no portão de minha casa, minha mãe comentou com uma vizinha a expectativa de meu pai em abrir seu próprio negócio; a tal vizinha, na tentativa de estragar nossa alegria (tentativa frustrada), entortou a boca pro lado e numa expressão facial mais do que infeliz, proferiu as seguintes palavras: - eu conheço uma pessoa que tentou algo assim, e foi parar no fundo do poço! – aquelas palavras foram como tiros de metralhadora nos sonhos de minha mãe. Ela se despediu amigavelmente, e saiu cabeça baixa, em direção a minha casa. Minha vontade era de partir pra cima da fulana e enfiar aquelas palavras dela goela abaixo, alguma força divinal me segurou aquele dia, a fúria era grandiosa, o sangue me subiu todo pra cabeça.

Chegando em casa, minha mãe começou a relembrar o fato e a questionar se daria ou não daria certo o novo negócio, eu, extremamente revoltada com aquela situação, virei pra ela e disse – mãe, é por isso que Deus nos deu um par de ouvidos, entra num e sai no outro – e expliquei a ela, com toda a paciência que eu estava, que pessoas como a tal fulana, deveriam ter seus comentários ignorados e não levados em consideração. Minha mãezinha (coitada) se acalmou e voltou a fazer seus planos e projetos.
Mesmo sendo um demônio influenciador e persuasivo, a inveja não deve ser tratada como tal, muito pelo contrário, o que a mata é perceber que não nos atinge, mesmo que você tenha vontade de apertar o pescoço do fulano (a) ou até mesmo arrancar a sua língua com as próprias mãos, espere, se acalme, respire fundo e seja inteligente; utilize-se de habilidades teatrais como cinismo e um sorriso largo e falso, finja que se importa com sua opinião, faça aquela cara (lerda) de paisagem...

Mas cá pra nós, sejamos honestos, quem nunca sentiu inveja de alguém levanta a mão e dá um grito?! Minha mão se manteve no lugar e minha língua nem pensou em vibrar num berro. Todo mundo sente inveja de alguém pelo menos uma vez na vida, só que alguns controlam e outros não resistem e deixam transparecer, é só essa a diferença. Eu confesso, tenho inveja daquele bocão da Angelina Jolie, inveja da bunda da Jeniffer Lopez e das pernas da Ivete Sangalo e nem por isso elas andam por ai deprimidas e inseguras, ou sem suas características invejadas por mim, o que eu quero dizer é que a inveja não tem poder nenhum sobre nós, o que faz com que seu veneno tenha efeito é a nossa própria mente, que decide ou não acreditar no que ela diz.


'Glenda Barros

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Andróidezinho da mamãe!


Quando eu era criança, minha mãe me dava banho e cuidadosamente escolhia a roupa que eu ia vestir. Eu poderia estar me achando ridícula e brega com a roupa, mas a usava do mesmo jeito, questão de respeito e obediência. Nunca, mas nunca mesmo, ousava levantar a voz para a minha mãe ou para o meu pai, senão a surra comia feio. Antigamente não tinha esse negócio de dar birra pra conseguir as coisas não, se começássemos com uma ceninha do tipo, nossas queridas mãezinhas vinham em nossa direção, segurando numa das mãos, ou um chinelo (pouco provável, dói menos), ou uma cinta (mais provável, dói pra caramba) ou uma vara de amora (quase sempre usada, tem o poder de estraçalhar nossa carne jovem), e a outra mão ficava livre para segurar nossos braçinhos franzinos, evitando uma possível tentativa de fuga. E se persistíssemos no pranto, ela se virava e, apontando o objeto de tortura em nossa direção dizia – engole o choro moleque, ou vai apanhar mais – daí respirávamos fundo e ignorávamos a dor pra não ter que sentir ainda mais.


Hoje a história é um pouquinho diferente, os filhos são mimados, respondões e birrentos. A roupa é do gosto deles, aí daquele que tenta vestir algo neles que não é de seu próprio gosto. Eles aprenderam a dizer não; se não querem, não fazem, nem debaixo de reza brava. Discipliná-los está cada vez mais difícil. Conversar é impossível, não tem mais diálogo, o máximo de conversa que se tem hoje em dia entre pais e filhos se dá, quando o “guri” se vira e diz – eu odeio você mãe! –, ou - eu odeio você pai! – ou então - vocês são ridículos, ODEIO vocês! Dar umas palmadinhas então, agora é caso de polícia, eles podem levantar a mão e a voz para te agredir, e você tem que fazer cara de paisagem e ainda dizer – calma filhinho, a mamãe vai comprar pra você!


Outro dia eu voltava do trabalho de ônibus, e observava uma menininha de mais ou menos uns sete anos de idade, que estava sentada juntamente com sua mãe bem na minha frente. Apesar da pouca idade a peste já se achava dona do próprio nariz, apontava o dedo na cara da mãe e dizia, “eu quero isso e você vai comprar pra mim”. Eu fiquei escandalizada com a cena, pensava comigo mesma “isso não pode ser uma criança, isso é um andróide” (foi a expressão que encontrei, que mais se encaixava com atitude fria e prepotente daquela criança).


Eles estão ficando cada vez mais difíceis e autoritários, e isso tudo acontece porque seus o caminhos estão livres de proibições. Desculpem-me a honestidade, mas, infelizmente, nossos papais e mamães de hoje inverteram os papéis. Para suprir a ausência na vida diária de seus pimpolhinhos, os pais se empenham em não desagradá-los, enchem seus filhinhos de atividades o dia inteiro, de pilhas e mais pilhas de brinquedos, enfiam logo uma chupeta na boca do guri quando ele começa a berrar, e se o cut-cut da mamãe se aproxima e fica grudento, manhoso e carente, tratam logo de empurrar, guela abaixo, um litro de leite quente com alguma mistura, como se o único motivo do choro incontrolável, da carência excessiva e do grude fosse fome.


Se as crianças estão virando andróides é porque estão sendo tratadas como seres sem sentimento algum, tendo sua percepção subestimada pela maturidade de seus próprios pais que dizem estar fazendo o melhor por eles, nas mamadeiras, óleo ao invés de leite, e no lugar do amor, carinho e atenção, milhares de atividades pré-programadas. A culpa não é do governo que proibiu as palmadinhas educativas, mas sim da geração “piloto automático” que transferiu a criação de seus filhotinhos para alguéns e/ou lugares “especializados” para tal tarefa. Nada substitui a presença e o cuidado de um pai e de uma mãe, e nossas crianças sabem muito bem disso.


' Glenda Barros

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Devagarinho...

Por que temos tanta pressa? A grande maioria das pessoas que conheço e convivo diariamente sofrem da síndrome do “aqui, agora e já”, não saboreiam nem o próprio almoço pra não perder seu precioso tempo, afinal, “tempo é dinheiro”.

Sem perceber, essas pessoas vão passando pela vida na velocidade da luz, atropelando gente pelo caminho, deixando alguns feridos, outros mortos, mas a probabilidade de parar para socorrer ou voltar atrás é praticamente zero, anseia-se mais que a própria vida chegar ao podium no lugar mais alto, ou seja, à realização satisfatória e completa.

Mudou-se o século, mudaram as prioridades. Agora os meus desejos, anseios, carreira vêm antes de minha família, saúde, felicidade (...). Não concordo com o ideal ambicioso e sem escrúpulos de alguns, mas também não apoio àqueles ociosos que vão vendo a vida passar de braços cruzados esperando o maná cair do céu.

É devagar, devagarinho, desse jeitinho que tem que ser, nem rápido demais, nem parado no tempo, é devagarinho, no sapatinho, no miudinho, entendeu?

Deixa a vida te levar no ritmo do samba-canção, assim meio moroso, sutilmente brando e extremamente sentimental, a vida levada nessa batida é muito mais pensada, sentida, apreciada. As chances de se estatelar no chão e ficar com seqüelas graves, são praticamente nulas quando se está devagarinho....

Vai de mansinho, sentindo o gostinho doce de ser feliz, sentindo o ventinho fresco de esperança tocar a face, vai ajeitando uma coisa ali, outra acolá, vai seguindo e planejando, montando as peças, regando os sonhos, o tempo, (Rum!) não é dinheiro, é apenas o prazo da vida. E a vida, meu bem, não tem pressa, não se avexa, não se afoba pra acabar, ela segue no passinho lento, pra te dar tempo de sorrir, e de chorar, de perder e conquistar, de crescer e aparecer, de compor e de sambar...

‘Glenda Barros

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O RETRATO DO AMOR



Sentei-me no banco da praça. No pulso o relógio marcava 17h45min, já se podia sentir aquela brisinha mansa e fresca que avisa que a noite se aproxima. Além do horizonte o sol vai se escondendo preguiçosamente, parece que ele faz isso de propósito, só para ficarmos ali, contemplando e degustando cada segundo de sua encenação.
Estagnada com o espetáculo divinal, ouço ao longe uma risadinha, que consegue, milagrosamente, me tirar daquele transe hipnótico. Empenhei minha atenção na busca do dono daquela risada. Meu olhar investigador, que seguia o som dos acordes daquele sorriso, finalmente sintonizou-se na freqüência do mesmo, a cena que aquela trilha sonora embalava encheu meus olhos de graça, quanto amor, quanta ternura havia na expressão daqueles dois malucos apaixonados.
O amor “embobece” mesmo as pessoas; até o jeito de falar se infantiliza. As palavras são pronunciadas de uma maneira tão melosa que, vocábulos mono ou dissílabos, se transformam em longos polissílabos (amÔoooooooor, sabia que eu te amooooooooooooooo), é mel pra mais de metro.
Continuei a mirar o casal que, trancafiados em seu mundinho cor de amor, não percebiam mais ninguém além da imagem um do outro. Ele acariciava o rosto dela lentamente, com se estivesse contemplando a coisa mais linda desse mundo, o toque suave e preciso daquele mancebo apaixonado, iam esculpindo nos lábios de sua amada um largo e doce sorriso.
Seus dedos/pincéis seguiam perdidos por entre os fios negros do cabelo dela, arrancando suspiros de amor de sua alma, que eram perceptíveis no olhar satisfeito, na face envolvente e no arrepio do seu corpo totalmente entregue ao sabor do amor.
O amor é mesmo lindo de se ver! Fiquei encantada com aquela imagem impressa no crepúsculo do dia; registrei aquele momento na memória pra não mais esquecer, meu coração desencorajado, renovou-se em esperança, o amor ainda existe, hoje pude fotografá-lo de longe, sentada bem ali, naquele banco de praça...