sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

O negócio do Zé!

Glenda Barros

Minha avó é uma exímia contadora de causos. Ela tem o dom de entreter a meninada e os adultos, contando histórias antigas cheias de situações engraçadas e inusitadas. Numa dessas noites, com a família toda reunida na sala, ela contou um fato que não teve quem não chorasse de tanto rir.
O cenário da história era uma igreja grande de renome nacional, muitos membros; daquelas bem rígidas, com seus costumes e tradições seguidos com fidelidade por todos, até pra falar tinham regras. Nessas igrejas, sempre tem um determinado momento no culto em que são demandadas algumas oportunidades, que podem ser usadas com “liberdade” pelos membros da igreja para cantar, ler alguma passagem da bíblia, contar algum testemunho, ou algo relacionado a isso. Se ninguém vai por livre e espontânea vontade, o pastor aponta o dedo, diz o nome e manda subir no púlpito nem que seja pra plantar bananeira (fui longe!).
Numa dessas oportunidades, uma senhorinha baixinha, cabelos brancos, tom de voz cansado e o andar debilitado, subiu na plataforma e, com o microfone na mão começou a contar seu testemunho de vitória.
— Paz do Senhor irmãos!
— Amém! (vozes de mais ou menos umas 150 pessoas em uníssono, a igreja tava quase lotada).
— Irmãos, Deus tem sido muito bom pra mim, eu orei e Ele me ouviu!
(aleluia! Glória a Deus! Gritos+Palmas+Gritos... )
— Eu não agüentava mais, minha vida não tinha mais prazer, eu me sentia triste e insatisfeita (até aqui tudo bem!) o negócio do Zé (hã?!) era pequeno demais! (misericórdiaaaaaa!)

Um silêncio quase mortal tomou conta da igreja; de repente os olhares ficaram atônitos e fitos na senhorinha. Escandalizadas e horrorizadas, as pessoas começaram a cochichar entre si. Era misericórdia dum lado, (Jesus!) do outro, risadinhas cheias de má intenção no meio e olhares repressores e julgadores pra cima da tia (coitada!).
— Eu orei irmãos, e o negócio do Zé começou a crescer de uns anos pra cá.
— Uhhhhh+risadinhas....Sinônimo de:  “Ai meu Deus, quê que essa véia tá dizendo?!”
— Agora irmãos, eu me sinto realizada e feliz, o negócio do Zé está enorme (HUMMM) e agora eu tenho prazer (VÁLA-ME DEUS!)....
O pastor avermelhado de tanta vergonha sacou das mãos dá velhinha o microfone, e se dedicou, desesperadamente, a explicar o significado da expressão “o negócio do Zé”. A explicação era simples e óbvia, o negócio era uma pequena mercearia que expandiu e começou a render lucros. O povo não se conteve e caiu na gargalhada, risadas de alívio e ao mesmo tempo amedrontadas por denunciar, meio que sem querer, que suas mentes não eram tão puras assim. A velhinha desceu do altar sem nem ao menos mudar de cor.
O culto seguiu “normalmente” e o pastor, dias depois, anunciou um novo decreto determinando que, todo membro, antes de divulgar suas bênçãos no treco ampliador de voz (microfone), teria que recitar tudo pra ele em secreto, no seu gabinete. “É que eu quero evitar a fadiga!” E a igreja diz: AMÉM!