sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Musas enfeitiçadoras!


Por Glenda Barros

To toda arranhada! E antes que você ai do outro lado tire suas conclusões precipitadas, vou explicar o porquê dessas escoriações acidentais na minha pele. Quando eu tinha mais ou menos onze anos de idade comecei a estudar música, mais especificamente teclado, e de lá pra cá nunca mais parei, do teclado passei para o piano e inclui canto coral e popular.
Por conta disso nunca podia deixar minhas unhas crescerem, pois atrapalhavam o desempenho dos dedos na execução das notas no teclado. Tem mais ou menos uns seis meses que eu parei com o piano erudito, e só agora minhas queridas unhazinhas conseguiram crescer sem quebrar.
Depois de uma vida toda reprimindo as coitadinhas, descobri que eu não estou preparada fisicamente, muito menos psicologicamente para ter unhas grandes e felinas. Outro dia ao escovar os dentes enfiei, sem dó nem piedade alguma, a unha do dedinho mindinho no canto da boca, o sangue jorrou e eu fiquei apavorada, sem saber se lavava a boca ou se olhava a bendita unha pra ver se não tinha quebrado...
Eu cresci achando que só tinha dedos, nunca imaginei que unhas fossem tão ameaçadoras e perigosas. Pentear os cabelos ou coçar alguma parte do meu corpo( minha santa ignorância!), sem as infelizes, eu afundava meus dedos gordos e cabeçudos e coçava até ficar de boca aberta e com aquela cara de retardada, agora não, se eu empenho um pouco de força, abre-se uma vala do tamanho do gran kenion, enorme e profunda, bem no local, que pra remendar só mesmo à base de linha e agulha.
O pior é que as danadas estão lindas, todas trabalhadas no vermelho intenso da Risqué. Eu me arrumo na frente do espelho olhando pra elas, desço a escada segurando o corrimão, não mais por uma questão de segurança, mas para olhar aquelas devoradoras envernizadas da cor da paixão em movimento, como elas combinam comigo, como eu as amo (bobagem)! Agora faço questão de ajeitar meus cabelos, de comer com garfo e faca (fica tão bonito), de dançar valsa (fica mais fácil de olhar pra elas), de descansar minhas mãos em cima dos joelhos.
Tô toda estraçalhada, mas as minhas unhas continuam impecáveis, sedutoras e fatais. Agora o jeito é comprar uma escova de dentes elétrica,  contratar alguém pra me coçar e juntar os retalhos que ainda sobraram de mim; pois concentrei minhas forças nas digníssimas e desfazer-me delas causaria um enorme desfalque na minha poupança de auto-estima, e cá pra nós, antes algumas fatias de pele irem embora nas laminas/unhas que perder o glamour, charmoso e atraente, das musas enfeitiçadoras presas às pontas dos dedos...
Quem pode, PODE....
ADOOOROOO!!!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Odeio Silêncio



Não sei porque as pessoas veneram tanto o silêncio. Sinceramente, não vejo a menor graça em permanecer calada. Eu posso dizer que era feliz e não sabia (sabia sim), trabalhava num lugar onde as pessoas riam, brincavam e tagarelavam, tudo isso no tom que bem entendiam. Não tinha essa de medir o volume da voz, pesar as palavras pra liberar uma minúscula porcentagem de quilogramas por minuto.

O lugar agora é chique, requintado, elegantérrimo por sinal. Paredes revestidas em mármore branco, o chão também; lustres suntuosos, música ambiente em todas as salas. Quando visualizei o lugar pela primeira vez, fiquei estática, imóvel, com a boca meio aberta, igualzinho a um caipira num Shopping Center.

Tudo é digital, as lixeiras dos sanitários se abrem quando você aproxima sua mão a um sensor instalado na tampa, o fogão não tem fogo (?), pra entrar a gente utiliza a digital do polegar direito, a modernidade está em cada canto, em cada detalhe, e mesmo sendo já deste século, ainda não aprendi a manusear aquela bendita máquina de café!

Definitivamente, não sei ser chique! A lixeira me assusta, o fogão me deixa invocada e a máquina de café é uma incógnita. Minha cara não combina com o lugar, to custando pra me adaptar. Fico meio desconcertada com algumas coisas, evitando outras, mas nada é tão indigesto e insuportável do que o digníssimo silêncio, esse sim, consegue me incomodar....

Não dá nem pra falar com as paredes, pois as ondas sonoras que você emite retornam numa pancada imensa de decibéis, ou seja, elas gritam com você, e gritar por aqui, só estando louco ou querendo assinar um AVISO de adeus.

Mas já que não tenho outra escolha, vou ficando por aqui, falando baixinho, sussurrando de mansinho,  procurando evitar qualquer atitude que demonstre minha ignorância tecnológica, afinal, de chique eu só tenho o nome, mas ninguém precisa saber disso!

Só conto pra vocês!

Glenda Barros

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A alma do negócio


Como é bom estar apaixonado! Dá vontade de congelar alguns momentos e revive-los sempre que quisermos. Os dois parados, se olhando encantados. Um diz que tá apaixonado, o outro fica ali, quietinho e estático de tanta felicidade.
O sorriso no rosto é inevitável, incontrolável; a gente ri que nem percebe. No olhar o brilho aumenta, no peito o fogo esquenta e no corpo,  a ansiedade descontrola as reações.  Difícil dizer o que se sente quando está do lado de alguém que se gosta.
Posso dizer que estou vivendo dias de muito sentimento. Mas quase perdi a oportunidade de vivê-lo por questões de caráter imbecil e fútil.
 Quando percebi aquele homenzarrão me encarar com os olhos fixamente, juro que tentei me esconder, de tão desconsertada que fiquei. Entrei em guerra com meus  pensamentos, na mente fazia questionamentos como: será que ele tá olhando pra mim? Vou levantar o olhar e conferir. E quem disse que eu tinha coragem de encara-lo!
O pescoço travou, parecia que uma mão enorme o pressionava em direção ao chão. Pensei mais  uma vez, essa pode ser minha única chance, vou retribuir esse olhar. Bravamente tirei aqueles mil quilos de cima da cabeça e olhei. Apertei meus olhinhos pequenos devagar, abaixei um pouco o queixo, esbocei um sorrisinho lerdo, respirei fundo e pronto. Missão cumprida, imaginei (Ufa, nem foi tão difícil assim).
Agora era pagar pra ver no que é que dá. Uma semana se  passou e lá estava eu, sentada num banco de praça rindo escandalosamente alto, abraçando e sentindo aqueles braços enormes me protegerem e me libertarem de uma solidão amarga e triste, que a muito tempo insistia em me acompanhar.
E pensar que tudo isso não estaria acontecendo se aquele olhar não fosse, devidamente, retribuído. Não sei se estou certa, mas pra dar lugar ao amor o orgulho tem que procurar outro lugar pra habitar. Nós mulheres às vezes nos fechamos que nem ostras, e depois nos enterramos num sofá e descontamos em potes de sorvete a nossa condição de solteira. Culpamos os homens por sua falta de atitude, quando nós é que impedimos a aproximação.
Não sou uma expert em relacionamentos, mas uma coisa minhas experiências me ensinaram, que essa mão opressora que às vezes te segura e te impede de retribuir alguma manifestação de vontade precisa, e tem que ser banida de nossas vidas. Retribuir não significa que você é oferecida mulher! Mas é sim, uma questão de educação, além de ser a Alma do Negócio.
Corresponder é a senha para a aproximação, feito isso, o caminho fica livre para a conquista, o coração fica atento a qualquer movimento e pronto pra qualquer situação. É tempo de se apaixonar, deixe a vida te ensinar o que ela sabe...
Isso é bom demais!

'Glenda Barros

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

São as Coisas da Vida...


Já viu cara de decepção? Se você me visse hoje, certamente notaria essa cara ai em mim. Ta ai um sentimento que a gente tenta, mas não consegue não imprimi-lo bem no meio da cara. É um trem esquisito e instantâneo, a noticia vai sendo dada e as suas sobrancelhas automaticamente caem, seus olhos murcham que nem tomates secos e o nó na garganta aperta.

Observando atentamente meu estado físico atual, percebi que as danadas das minhas sobrancelhas têm vida própria, eu emitia um mandato cerebral para que elas reagissem de maneira natural, mas tudo em vão, elas permaneciam descaídas, deixando minha expressão facial morta e horrorosa.

Meus olhos são extremamente submissos ao movimento decrescente desses arcos desobedientes (sobrancelha), sem titubear eles iam se acomodando em cima das bochechas, dando aquele aspecto assombroso de peso e rabujice mórbida.

A garganta se fechou num punho enorme, e começou a socar meu querido estômago com muita potência, provocando cólicas desconfortáveis que impediam o curso normal das coisas, a comida não desce e a água vai saindo pelos olhos descontroladamente, com a força de uma barragem corrompida.

Queria eu ter em mãos uma pílula antibiótica que agisse imediatamente depois de ser ingerida, porque essa minha cara de decepção é milhões de vezes pior que a mistura do Chuck (boneco assassino) e o Freddy Krueger, tão feia e abatida que eu fico.

E o pior é que você tem que ficar explicando por vezes seguidas no mesmo dia, sem contar que ainda tem aqueles que te abordam se utilizando daquelas frases ridículas de puxação de assunto como: “porque ta com essa cara de bunda?” ou “que foi que você tá com essa carinha amarrada ai?”, porque o infeliz nunca tem coragem de perguntar diretamente, com isso ele contribui imensamente, para sua incrível aquisição de uma cara de raiva, estressada e vermelha.

O único remédio eficaz na cura da decepção é o choro, pois é o desabafo da alma em forma de gotículas cristalizadas no olhar (falei bonito!). Indico também que você chore diante do espelho, isso mesmo, porque quando você visualizar seus olhos inchados, seu nariz enorme e desproporcional e sua cara feia e desiludida nunca mais vai querer repetir a dose.

Faço do dito popular minha filosofia de vida, “decepção não mata, ensina a viver”, amanhã o sol se encarregará de secar as minhas lágrimas, e a vida vai me dizer com todo o seu otimismo poético, que essa é só mais uma de muitas, e que o futuro ainda me reserva muitas dessas pequenas DECEPÇÕES...

São as coisas da vida!

´Glenda Barros

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O segredo é se livrar da trouxa...

A vida às vezes nos surpreende com momentos e situações geradoras de uma felicidade descomunal. Como eu já disse em textos anteriores, pra mim o sentido da vida é pra frente, não fico procurando teses filosóficas, hipóteses psicodélicas para justificar o meu estado permanente de satisfação.
Descobri que ser grato em qualquer situação pode ser revigorador, impulsiona as pernas da vida a seguir adiante. Se me mantenho fechada e mergulhada num poço de mágoa e amargura, minha história dá passos largos para trás e a vida perde seu SENTIDO natural.

Enquanto minha boca proferia palavras mesquinhas de ingratidão e de desgosto, minha biografia ia sendo redigida à base de tinta em tons escuros num papel velho, mofado e cheio de imperfeições. Até que percebi que para ser feliz e realizada bastavam-me apenas duas coisas, perdoar e esquecer.
Quando eu realmente comecei a viver esses princípios, posso afirmar que toneladas saíram de minhas costas, o fardo ficou mais leve e a mobilidade passou a ser uma tarefa mais prazerosa e simplificada. Andar é bem mais fácil quando não temos uma trouxa de mágoas para carregar.

A gente tem uma facilidade de guardar coisas ruins, enquanto que coisas boas ficam lá, guardadas no fundo da memória, um fato que eu considero injusto e tolo de nossa parte, pois os livros de nossas boas memórias deveriam ficar expostos nas prateleiras mais visíveis e num lugar de mais prática acessibilidade, onde possam ser achados com extrema facilidade e apreciados com mais freqüência.

Eu decidi perdoar e fiz questão de esquecer muitas situações desagradáveis e tristes, ficar relembrando certas coisas só vão adoecendo os ossos e tornando a caminhada mais dolorosa e cansativa. Vivo sorrindo, e o melhor é que não preciso de um motivo ou de um incentivo, só preciso sentir o ar invadir minhas vias respiratórias e estufar o meu peito, confirmando que a vida ainda permanece firme em mim...

O meu conselho é que a gratidão seja algo real,  algo vivido com intensidade e verdade, que o perdão passe de apenas uma palavra para uma atitude consciente e permanente, e que o ato de esquecer fatos ruins seja encarado, não como uma maneira de se esquivar dos problemas, mas como uma estratégia mais inteligente e rápida de se lembrar que ainda existe vida e que ela precisa ser vivida...

Portanto,

Vá e não peques mais...

'Glenda Barros

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Do baú para o papel...



Hoje acordei inspirada e saudosista, mergulhada nas lembranças, e pra não perder a oportunidade cá estou eu pra tentar contar, resumidamente, um pouco da minha história.

Nascida e criada até os seis anos de idade no interior, a roça não saiu de dentro de mim. Mesmo vivendo a maior parte da vida em cidade grande, o interiorzão ta grudado no meu peito, no meu jeito, na minha cara. Gosto de roça, do cheiro de mato, esterco de vaca e barulho de água espancando a pedra. Quem me vê falando assim logo pensa que eu cresci numa fazenda, quem me dera, mas não; nada disso, mas era quase, só faltava a água, a vaca, o esterco (...). Mato tinha, e tinha muito.

Saudade da minha terrinha, onde o calor ardente cozinhava a testa exposta e vulnerável, onde não tinha vento, fazia 40°C na sombra e eu saia correndo nas ruas fritando os pés no asfalto quente; realmente o corpo se adapta mesmo as condições do meio, eu nem sentia calor, meus pés não rachavam e o suor eu nem sabia que existia.

Já em terras goianas comecei a viver os dilemas da vida, a adolescência não foi conturbada não, mas foi meio apagadinha, sem travessuras, sem aulas enforcadas, sem peripécias extraordinárias. Feia e introvertida, eu sempre era a ultima a ser escolhida na hora do vôlei, sentava na primeira carteira, puxava o saco da professora (nerd) e meu nome nunca era lembrado por ninguém.

Mas como é inevitável eu cresci e apareci (graças a Deus!), virei mulher, deixei pra trás meu rostinho de criança, minha infância, minha raiz. Meu corpo já não é mais franzinho, meu rosto já possui marcas esculpidas pelo tempo e experiências. Se eu pudesse voltar no tempo, mesmo assim não voltaria, gosto de ver a evolução da vida, e mudar os fatos talvez não seja a solução, talvez traga ainda mais confusão.

Ainda tenho muito da garota sonsa, só que agora eu finjo que sou, é charme (rs)! Com o olhar eu converso, brigo, disfarço meu jeito de mato. Vivo um dia de cada vez, pra ver se o tempo passa mais devagar e me dá mais prazo pra realizar o que eu quero, o que eu já quis e ainda não consegui. Hoje vejo as coisas com outras intenções, não me magoou facilmente e nem me enfureço atoa, prefiro me erguer sorrindo que permanecer no chão chorando.

Ainda tenho muito pra aprender, meu estoque de caras eu renovo todo dia, é quebrando uma e eu colocando a outra. Não sou uma heroína, não “causei” na avenida, não fui paquita, não sou bonita, sou só mais uma, caindo e levantando na estrada da vida...


'Glenda Barros

sábado, 6 de novembro de 2010

AUTO ESTIMA não tem senso de ridículo!


Existem pessoas que não tem o mínimo senso de ridículo. E o fato que me intriga é que, estranhamente elas conseguem sobreviver a essa selva de pedra cheia de regras e padrões. Outro dia eu vi na rua um personagem do sexo feminino, mais ou menos uns 45 anos (pelo menos era o que a cara dizia) e que andava escandalosamente em cima dum salto 15cm, se achando a Gisele Büdchen.

Enquanto vou descrevendo a fulana, você vai imaginando ai a figura da mesma. Comecemos pelas madeixas (cabelo). Fiquei invocada, louca pra saber que cor era aquele cabelo, a raiz era castanho escuro, com alguns fios brancos brigando e insistindo em permanecer, da metade do cabelo até mais ou menos nas pontas um amarelo lutando pra ser loiro (sem sucesso), e nas pontas um tom meio avermelhado de uma tinta jogada antes do loiro/amarelo, dando aquele aspecto de pêlo de vaca malhada.

Digamos que a fulana não tinha aquele físico perfeito, seu peso equivalia ao de um filhote saudável de elefante e a circunferência de sua cintura, era semelhante ao de uma máquina de lavar roupas hospitalar com capacidade para 100kg (pense!), fiquei imaginando aquele monte de carnes entrando naquela calça legging de couro preta, como ela conseguiu aquela proeza?! A onça que foi morta para vesti-la devia ser pequena, porque a blusa além de curta era apertada, demarcava com perfeição todos os seus pólos.

Eram poucos dedos pra tantos anéis, um de cada cor, usava tudo isso e se sentia a gostosa do pedaço. A dita cuja exibia toda sua silhueta num rebolado extravagante, transmitindo toda sua sensualidade calórica num batom pra lá de vermelho. Olhei para digníssima, encarei-a nos olhos e ela arreganhou aquele monte de dentes pra mim e disse, em alto e bom tom -E ai amaaaada!-; instantaneamente pensei, isso sabe falar?!
Paralisei apavorada, mas bastaram-me cinco minutos de conversa pra eu me derreter aos encantos daquele ser pra lá de estranho, era uma amante da vida, sem baixo astral, acreditava no amor, na felicidade, que o Elvis ainda está vivo e que papai Noel existe.

Brincadeiras a parte, tenho que confessar que admiro pessoas assim, elas têm uma auto-estima muito resolvida (penso eu), pois se acham lindas, andam como se tivesse uma multidão de câmeras fotográficas registrando cada momento, cada passo; se exibem constantemente como se fossem um padrão a ser seguido e tudo isso com direito a caras e bocas provocantes. Geralmente são figuras bem humoradas, brincalhonas, riem alto e sempre têm uma frase de efeito motivador que tem o poder sobrenatural de nos tirar da fossa. O que realmente importa para elas é ser feliz, e o espelho é só mais um objeto de ornamentação e não um alguém com direito de dar pitaco em sua felicidade...


'Glenda Barros

domingo, 31 de outubro de 2010

Preciso de uma nova cara!



Sei que a maioria de vocês me conhece só pela foto do perfil. Repare só neste rosto angelical, sorriso médio quase sensual, o olhar cativador, levemente baixo; a boca praticamente virgem, naturalmente posta. Todo o conjunto da obra proporciona uma expressão quase esnobe de uma vontade de olhar camuflada, mas sem demonstrar pretensão descarada.

E é com todo pesar que lhes digo: minha cara não é assim, pelo menos não o tempo todo. Aqueles que me conhecem pessoalmente, depois de alguma intimidade conquistada, me dizem temerosos que tinham medo de mim antes de me conhecer, e quando os questiono a respeito do motivo pelo qual tinham medo de minha pessoa a resposta é sempre a mesma: você tinha uma cara fechada, amarrada e séria demais...

Sou terrivelmente intrigada com isso, afinal, o que seria uma cara fechada? No meu ponto de vista míope, seria andar o tempo todo com um saco, uma mascara de ferro, ou qualquer coisa que cobrisse por completo meu rosto. Pessoas que agem assim estão num hospício a essa altura, e eu estou aqui, soltinha que nem vestido rodado em cabo de vassoura (será que eu sou maluca e ninguém me falou?).

E uma cara amarrada então? Mas que raios de expressão ridícula é essa! Será que minha cara é tão feia que parece que está virada num nó?(conclusão frustrante) E o que é que tem ser séria? Não sou de arreganhar meus dentes pra todo mundo não, não considero isso um crime e nem uma postura antissocial. Imagine comigo, uma pessoa que nunca te viu na vida, cumprimenta-lo com um sorriso escandalosamente posto na cara, falando contigo como se já fosse teu amigo a vida toda, é no mínimo estranho e no máximo ridículo.

Não sou chatinha, nem retraída, nem nada semelhante a isso; sou apenas recatada, e tenho expressões faciais pra todo tipo de situação, mas só as exponho quando a circunstancia exige, uso a coerência e o bom senso pra discernir o momento ideal, do contrário, passo a maior parte do tempo me escondendo embaixo da minha cara de nada, que é como um descanso de tela, evitando que rugas precoces surjam e que o cansaço facial abata ainda mais minha feição...

É, prefiro mesmo ficar na minha, no meu canto, quando sou apresentada a alguém esboço um sorriso leve, digo um olá e pronto. Partindo desse ponto e dessa maneira, o caminho fica aberto pra eu me aproximar cada vez mais da pessoa, e a amizade dela vai sendo conquistada aos poucos, a cada conversa. Passei horas diante do espelho olhando minha cara e, sinceramente, não me deu medo algum, ou as pessoas estão ficando medrosas demais ou eu já me acostumei à feiura exacerbada do meu reflexo. Foi por isso, só pra não correr o risco que cheguei à conclusão de que PRECISO DE UMA NOVA CARA!

Aceitando sugestões...

'Glenda Barros

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Divina(MENTE) no Divã...


Preciso começar dizendo que estou naquela fase; aquela de se achar, se sentir mesmo; portando-me como uma eximia caçadora de olhares e elogios, divinamente Diva. Também preciso dizer, que existem certas fases da vida da gente que necessitam ser acompanhadas por um profissional (psicólogo).
Tem gente que passa pela vida com tanta naturalidade e aptidão que nunca recorrem a esse tipo de ajuda; ou pode ser que o infeliz é tão ator, que não transmite qualquer reação que condene alguma turbulência sentimental ou espiritual.
Não posso dizer que sou totalmente sã, mas não sou 100% maluca. Aliás, bestice pensar que psicólogo é coisa de doido; pra mim todo mundo deveria passar por uma sessão de terapia pelo menos uma vez na vida. Não é por nada não, mas quando a gente deita naquele “trem” (divã) parece que ele nos abraça. (É tão gostoso!) E não estou exagerando não, é uma sensação semelhante (nunca igual) a proteção do colo de uma mãe, e é tão quentinho e acolhedor quanto um útero (tô inspirada!).
Olha, confesso que não imaginava o quanto é bom desabafar nossas paranóias e delírios com alguém que a gente não conhece; é como confessar pecados, só que confortavelmente deitado; você fecha os olhos, cruza os braços, os posiciona embaixo da cabeça e vai falando, e falando; o maxilar chega a dar câimbra, mas em compensação, você sai dali revigorado, leve, desintoxicado...
Além do abraço do divã e do desabafo com um desconhecido, você ainda desfruta de um lugar tão chique e requintado quanto uma suíte presidencial de um hotel cinco estrelas. Se você, como eu, já andou visitando algum psicólogo deve saber muito bem do que eu estou falando. Na sala de espera, muito silêncio, só se ouve o som do salto fino da secretária no granito reluzente, a serenidade tá encravada nas paredes de todo o consultório, cores leves que remetem paz, tranqüilidade, calma, sanidade; é quase um templo budista.
A única parte ruim da terapia é a hora de pagar. Mas esse pequeno ($) desconforto não tira do rosto a expressão de alívio, de bem-estar. Ah, e tem outra coisa, ninguém me tira da cabeça que todo psicólogo também é exorcista, é sim, um exorcista; porque, vamos combinar, tem dia que a gente deita naquele divã, e chega a sentir o cheiro do tecido nobre queimando, de tão endiabrada e oprimida que estão nossas almas, mas quando saímos da sessão/descarrego, até aquela buzinada sem educação pra você acelerar o possante te parece uma sinfonia de Beethoven...
Não sei se é a voz deles ou se o lugar é que é zen; só sei que saio de lá com a alma de banho tomado, cabelo lavado e dente escovado... Mergulho naquele divã de cabeça, para ressurgir das cinzas segura e glamourosa como uma fênix. Adoro terapia (não que eu precise!), pois mantêm meus instintos neuróticos controlados, minha pele iluminada, minhas pregas vocais lubrificadas; aproveito pra falar logo tudo que eu quero, afinal, tô pagaaaaano!
Depois de chorar largado e emboladinho que nem neném, a gente arranca do rosto a prova do crime (lágrimas) com um lencinho de papel perfumado (ai que chique!), belisca de leve as maças do rosto pra tirar aquela palidez horrorosa que o choro compulsivo provoca e vale até colírio pra aliviar a vermelhidão dos olhos; tudo isso pra não dizer que, mesmo sendo Diva, a gente amolece no abraço gostoso do Divã e carece de ser ouvida, de falar e de descer do trono, mesmo que seja as escondidas...

Cada doido com a sua doidura!

Beijo da Diva! (rs)

'Glenda Barros

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

E o vento levou....

Não se engane, não vou encher seus olhos com um desses romances melosos, cheios de paixão, amor e sexo. Não, não mesmo, até porque, levando em consideração meu estado civil atual, escrever sobre algo assim não tem absolutamente nada a ver, é incoerente. De assuntos assim eu tô é correndo! O título é só uma forma mais poética de dizer que o tempo está voando aceleradamente, arrastando tudo, como o vento forte quando passa.


Acordei com aquela sensação besta de que passei dos três anos para os vinte e dois direto (como se isso fosse possível)! Eu podia jurar que não vi o tempo passar (eu e minha mania de exagero)! Parece que foi ontem que eu comi aquela gororoba gosmenta (papinha) e ainda pedi pra repetir, nem me lembro como fiquei de pé, muito menos como aprendi a pronunciar esse monte de palavras que conheço.

A verdade é que o tempo urge mais depressa do que a gente imagina, e a Sapucaí nem é tão grande assim, a gente dorme com quinze e acorda com 30, assim, de repente. Outro dia conversando com um amigo, soltei uma dessas gírias de uso diário de minha pessoa – chumbrega –, e por ser de uma região conhecida por seu linguajar diferente e peculiar, já tava até acostumada com chacotas e piadinhas, mas, nunca havia sido tão ridicularizada assim. Como os dizeres mudaram assim tão de repente?! E eu nem vi, ora bolas!

Também nem vi quando o quichute deixou de ser o sonho de consumo de todos os pés, não vi quando os patins foram substituídos por uma prancha com rodinhas, ninguém me contou que agora não é “Hippie”, é “Emo”, e, - minha nossa! – eu perdi o final de Chiquititas!

Era a maior onda usar tererês coloridos no cabelo, vestido de veludo era o que se usava e quanto mais armada era a “juba” (cabelo) mais chique era. Era “broto” pra lá, “bicho” pra cá. Os “pães” (homens bonitos) desfilavam suas “becas” (roupa elegante) cheios de “panca” (comportamento), andavam só de “patota” (turma); e não tinha essa de ficar “borocoxô” (tristinho), o negócio era fugir do “bode” (confusão) e botar pra quebrar nas pistas...era xuxu beleza, pode crer!

Imagino daqui a alguns anos, tudo que eu uso hoje vai ser ridículo e cafona (cafona é essa palavra!), meus amigos inseparáveis de hoje, serão colegas de “oi” amanhã (salvo exceções), a vida vai passando e a gente vai se acomodando. Confesso que detesto esse papinho retrograda, de que tudo era melhor antigamente. Até tentei me convencer dessa afirmação, mas me imaginei linda, morena e avassaladora, defecando numa latrina, com os braços e pernas arreganhados, me sustentando bravamente para não cair em cima da minha própria merda.

 Definitivamente, adoro o fato de o tempo ter asas, assim ele voa e leva tudo para o mundo da praticidade, onde a água já sai geladinha da torneira, a comida já vem pronta e as luzes vão acendendo por onde a gente passa...Ai que luxo!

Abraçeijos virtuais!

'Glenda Barros

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Vou te Contar...

Faz tanto tempo que eu não sei o que é me apaixonar que até já me esqueci como é isso. É trágico e, honestamente, sinto muita falta. Sabe aquela tremedeira besta, frenética e descontrolada?! Pois é; só sinto isso quando os termômetros naturais marcam temperaturas abaixo de 10°C, o frio na barriga agora é azia e ansiedade, só tenho pra assistir o final da novela.

Nem me lembro mais que gosto tem um beijo (pura hipérbole!), andar de mãos dadas, só com minhas priminhas ainda em fase de primeiros passos, e jantar fora então, só quando faço meu humilde pratinho e me dirijo até a varanda, pra degustar lenta e solitariamente a comidinha deliciosa e muito bem preparada de minha doce mãezinha.

Meus amigos vivem dizendo “você tem que curtir sua solteirice”, eu juro meus amigos, eu tento, mas não consigo enxergar a graça em voltar para casa sozinha no fim da noite, ou em deitar-me para dormir e não ter ninguém na mente, também não vejo mesmo a menor graça em utilizar meu telefone celular apenas como um infalível despertador (isso é deprimente).

Tá ficando cada vez pior, tá crítico,não me encanto por ninguém, meu coração não bate forte, minhas mãos não tremem, minha boca não seca; será que estou me tornando uma espécie mutante com características frias e assentimentais? Deus me livre disso!

Matutando com meus botões percebi um erro imbecil que quase todo mundo comete. Quando nos sentimos decepcionados e fracassados após o término de um relacionamento, apontamos, com toda autoridade, o dedo indicador para o centro do peito e dizemos “agora eu sou mais eu, primeiro a mim e se sobrar...”, parece bobo, mas a gente leva ao pé da letra, ficamos mais egoístas e relacionar-se fica cada vez mais difícil.

Auto estima não tem nada a ver com egolatria. O segredo de um relacionamento saudável e duradouro, na minha humilde e ainda jovial opinião, é ter em mente mais do que a si mesmo, é ser consciente de que você precisa do outro e que fazê-lo feliz é a sua prioridade, o que acontece quase sempre é que isso é encarado com seriedade apenas por uma das partes e não por ambas, como deve ser.

Sinto informar que seu ego pode até deixá-lo nas alturas, mas no alto do trono colossal do ego só cabe ele mesmo e mais ninguém. Lá em cima é só solidão.  Nesse caso entro em concordância com nosso saudoso Tom Jobim quando diz que “fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho!” Eu tento encontrar o equilíbrio entre não alimentar demais o ego, mas também, não deixar a carência baixar o padrão do candidato. Senão, ou acabo por ficar no "eu me amo" solitário para sempre, ou corro o risco de trocar o príncipe pelo guarda do castelo, só por medo de ele nunca aparecer. E agora chega desse papo sério!

 Até o próximo post!
BEIJO.ME.LIGA!

'Glenda Barros

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Ora...mas não se irrite!



Não, não estou aqui para homenagear as aventuras e peripécias da inesquecível série CHAVES (meus filhos assistirão chaves!). Tô aqui pra dividir com vocês algumas coisas que me irritam tanto, que eu tento, mas não consigo aplicar meus dotes passivos. Sugiro, que se você estiver por perto, dê um jeito de zarpar ligeirinho, pois quando tenho esses ataques de nervo, sobra pra todo mundo, até pro Zé do picolé (me desculpem os Zés, mas foi o que rimou com picolé).

Olhe só, eu juro que tento, mas não entendo porque raios alguém me pergunta alguma coisa e pede sinceridade, sabendo que existe a possibilidade de ouvir o que ela não quer. Ai eu fico naquele dilema, se eu cumpro com submissão o pedido, a (o) infeliz que me solicitou tal bestice, fica com aquela cara de B$%&8@a azeda o dia todo, e eu ainda sou taxada de grossa e sem educação. Se resolvo ficar na minha, o Fil#4%&65 da @ãe fica insistindo e importunando, como se soubesse que estou omitindo algo só pra agradá-lo (a) , agora me diga, se já sabe o que eu acho, então porque pergunta? Ahhhhh...faça-me o favor...

Definitivamente me tiram do sério, aquelas pessoas que ocultam o ID do celular, e acham que a gente tem obrigação de saber quem está falando, como se eu tivesse uma bola de cristal portátil que me revelasse quem é o jeca tatu bestalhão que está me ligando. E aquela mania imbecil e irritante de perguntar - “o quê?” ou “hã?” – depois que a gente fala alguma coisa, e o pior não é nem isso, o pior é que o sujeito ouviu tudo, e fez você repetir só pra ter mais tempo pra elaborar a resposta. É duroooo....

E porque as pessoas não tomam sopa direito. Precisa chupar a colher daquele jeito?! Aquele “ssssssssssss” entra no meu ouvido e causa um desconforto horroroso, uma agonia que eleva os pêlos da minha nuca de ódio. E aqueles que ficam sugando catarro quando estão resfriados, é aquele funga-funga sem fim, sem contar que é nojento, anti-higiênico, seboso, e urrrrrghhhh....

Gente feliz demais, gente que reclama demais, gente que fala demais, gente que não fala nada, gente que mexe no cabelo demais, gente meiga demais, gente grossa, gente modesta demais, gente que fala ''demais'' demais, puts isso é chato demais! ah não, não sei como nunca infartei!

Tudo isso provoca meus instintos mais impacientes e exaltados, tenho vontade de enfiar a mão na orelha de um, socar o estomago de outro, enforcar outros, mas não, permaneço firme e com aquela cara de paisagem (outra coisa que também me irrita). Prefiro concordar com meu amigo Paulo quando diz, “tudo me é lícito, mas nem tudo me convém”. Vou acabar logo por aqui, porque esses textos longos demais (preciso de um sinônimo pra essa mer#&@ de palavra) também têm o poder de me tirar das tamancas, e escrever este aqui já ta me dando nos nervos....ninguém merece!


'Glenda Barros

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Agora eu tô SELADA.


E não é que eu ganhei um selo! BLOG DE OURO...A NOVA SELADINHA DO BRASIL......

Eu tô chique bem! Ganhei este prêmio da maravilhosa Ana Lívia (adoro esse nome) que dedica seu espaço na web para relatar experiências e sentimentos, tudo com muito bom gosto e personalidade...confere aí no Nem tão incerta, nem nada.

E como nada vem assim de graça, tenho que indicar 10 blogs merecedores dessa mesma honraria, o que não é uma tarefa fácil, mas sem mais delongas, cá estão os tOp 10 em minha humilde opinião.

WILLIAM'S BLOG
SOU DO MEU AMADO
RABISCOS E RASCUNHOS
CRONICA DO DIA
HUMOR SULFURICO
O REINO EM NÓS
PORTO DAS CRÔNICAS
BUSCAI O REINO
OLHOS AO VENTO


SINTAM-SE SELADOS...



Tá ai. Tem pra todos os gostos, vai sem medo de ser feliz...
Gostaria muito de homenagear os blogs O pior Blog de Todos e Ideia Crônicas que são incrivelmente geniais mas que já foram contemplados pelo selo.

*Agora chega dessa babação, que eu tenho muito o que escrever.

PRONTO.

'Glenda Barros

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Programa de Índio...



“O lugar é lindo! Eu vi as fotos no site. Tem piscina, playground para crianças, um chalé no meio do lago, lugar pra pesca esportiva e até um restaurante com os mais variados tipos de pratos...hummm...uma delícia de lugar!”

Essas palavras alucinadoras despencaram da boca de minha prima, e caíram perfeitamente na nossa vontade louca de descansar e curtir o feriado. Cheios de fé, cruzamos o estradão desse meu Goiás sem porteira, deixando pra trás o estresse da cidade grande, a borracha dos pneus no asfalto escaldante e a monotonia do dia-a-dia.

Chegando ao dito lugar, um senhorzinho baixinho, pançudo e meio careca nos recebeu com um largo e simpático sorriso de três dentes e uma frase bem típica da região: “Baum? Quié que ocês manda?”
Empolgadíssima e ansiosa perguntei “quanto é pra entrar moço?” (ainda fui simpática, chamar aquilo de moço foi duro!) “Uai, apenas dér reaus!”, pensei com meus botões coloridos e saltitantes “que maravilha, é baum, e é baratim...baratim...!” (percebam que o lugar começou a me afetar)

Agora, caro leitor, sugiro que imagine uma cara de espanto. Imaginou? Agora incorpore essa cara que você imaginou à seguinte frase, “aquela taperinha no meio desse lago podre é o chalé?” Subentende-se que o lugar não era lá essas coisas. Piscina? Tinha sim, uma só, de mais ou menos três metros quadrados (enorme!), o lago fedia peixe podre e a comida do restaurante faltava sair andando sozinha, ou melhor, voando, nunca na minha vida vi moscas como aquelas, eram mutantes, enormes e verdes, os olhos pareciam a logo da rede globo de televisão, arregalados e ameaçadores em direção ao nosso prato. (credo!)

Longe da civilização e sem muitas opções, resolvemos ficar por ali mesmo e arranjar o que fazer. Colocamos nossos biquínis, maiôs, e os rapazes suas sungas; (alguns tímidos ficaram no discreto shorts) e seguimos para o Tietêzinho (apelido carinhoso, fazendo menção ao odor produzido pelo lago). O lago era fedido, mas era frio, e com aquele calor infernal, que dava pra esquentar marmita ao ar livre, não tínhamos outra alternativa senão nos render as águas sebosas e escuras daquele lago (Detalhe, a escuridão lago não indicava sua profundidade, era sujeira mesmo, a água mal cobria nossos joelhos).

Ficamos por ali o dia todo, jogando água na cabeça com uma canequinha improvisada, juro que podia se ouvir o tsiiiiiii da água fria tocando o corpo quente. Como resultado desse dia de cão, tivemos algumas unhas quebradas, insolação, dores abdominais, escoriações e alguns traumas. “Felizmente” não foi de todo ruim, terminamos o dia no trono, coroados pela experiência e reinando majestosamente sob o nível mais alto do fundo da fossa....

Isso é o que eu chamo de programa de índio, mas afinal de contas, quem nunca fez um programa de índio que atire a primeira flecha!



'Glenda Barros

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

nOo BalançOo dOo BusãOo...

Como fala essa criatura! Quanta saúde nessa língua! Essa era a frase que ecoava no meu pensamento, enquanto eu observava aquela boca cheia de dentes tagarelando intermitentemente. O sol à pino bem no meio do céu azul, aquilo tava mais pra uma lata de sardinha que um veiculo destinado ao transporte de gente. O busão tava lotado!

Aquele ser irritante falava, e falava, e continuava falando e emitindo grunhidos exagerados e escandalosos, que imitavam o som de um sorriso. Nas extremidades da boca, iam se acumulando uma espécie de pasta espessa e borbulhante, de cor branca, sim, era saliva...

Vez ou outra ela parava para respirar e aproveitava para sugar escandalosamente todo aquele cuspe para dentro da boca. Como uma pessoa pode ser tão feliz assim dentro de um ônibus lotado? Pela primeira vez na vida eu me irritei com a felicidade alheia.

A situação já tava ruim, pensei comigo, “não pode ficar pior”, e descobri que não é só em filme ou desenho animado que ao pronunciar essa frase o que era ruim fica ainda pior. Pois é, um fulaninho, que pra variar não tinha nada melhor pra fazer, resolveu degustar bem ali do meu lado um pacote daqueles salgadinhos cheios de corante e gordura trans.

Tem de todos os sabores, pizza, bacon, presunto, queijo, mas para minha alegria estomacal aquele era sabor CEBOLA. Como alguém normal consegue comer um negocio desses? O cheiro é uma mistura de pum e vômito, e o barulho que isso faz dentro da boca é insuportável e repetitivo....crot...crot...crot...


Minha casa nunca esteve tão longe, eu respirava fundo e mentalizava; "Não, isso não está acontecendo, eu não estou aqui, não estou passando por isso". Desejei com toda a minha alma ter o poder de me tele transportar, mas a imaginação não mudou a triste realidade, não adianta, ônibus é sinônimo de desconforto, de deselegância.

Pra minha sorte aquela luz forte e amarelada brilhou em forma de curvas sinuosas, transcrevendo palavras verdadeiramente revigoradoras para minha esperança (PARADA SOLICITADA), enfim meus pulmões receberiam gás oxigênio “puro” e meus ouvidos sentiriam o doce toque do silêncio.

Desci libertada, nasci de novo quando meus pezinhos tocaram o asfalto fulminante. Se fosse mais perto eu até arriscaria ir a pé, mas não, não sou assim tão atlética. Senti inveja dos que vão de trem, pelo menos é mais poético. Então, se não tem outro jeito, amanhã tem mais, no mesmo "bat" horário, no mesmo "bat" busão.


'Glenda Barros

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Meu inconsciente não tem gosto!!!


Acordei cantarolando intermitentemente o mais novo sucesso; "papa americano..." (mensagem subliminar tentando promover a aceitação de um futuro Papa americano?) ou "papo americano" (referindo-se as conversações típicas do povo das américas), ou seria; "papa o americano?" (coitado do americano!) ou "papamericano" (tudo junto?) a credo, sei lá, no som sai tudo igual mesmo.
Tentei me lembrar, afinal de contas, onde foi que ouvi essa música. E nada, também, está tocando em todo lugar.
Que coisa mais idiota, travei uma luta interna, comigo mesma, (perdoa o pleonasmo), tentando o dia todo tirar a música da minha cabeça. Não, nem posso chamar de música, para isso teria, no mínimo, que ter na letra uma frase completa, ou pelo menos, uma palavra que fizesse sentido, ora essa. Irada; será que existe uma pessoinha (traidora) com preferência musical duvidosa, alojada no meu inconsciente e tentando corromper minha sanidade? Não é possível.
A primeira tentativa foi de eleger um adversário, assim, se eu cantasse repetidamente uma coisa melhor, (qualquer coisa seria melhor), seria como gravar por cima de uma fita cassete. Tentei, e parecia que estava funcionando, mas ficar assim forçando um pensamento, cansa. E quando eu parei um pouquinho e o imaginário ficou vazio.... lá vem de novo; "papamericano". Urrrhh!!!! (Adeus teoria da fita cassete).
Tentei a intimidação; "EU NÃO QUERO CANTAR ESSA DROGA!" "ME OBEDECE INCONSCIENTE, EU MANDO EM VOCÊ!". Nada, também não resolveu.
A revolta passou para o compositor, quem foi que teve essa idéia genial? Unir uma baladinha eletrônica, á repetição sem explicação, da mesma palavra, cantada por algum fanho? Qual a mensagem afinal de contas? Qual a intenção? Desconfio que era essa mesma; ocupar a nossa mente com uma coisa inútil.
Não seria o primeiro a conseguir, todas as canções deste tipo; sem noção, sem sentido, sem conteúdo, sem futuro, entram na cabeça da gente e se instalam lá, sem autorização, se achando donas do pedaço. Melodias simples, sem muitas notas, letras repetitivas e agente cai. Lembra? Da Macarena, da Festa no Apê. ..."Pocotó, pocotó, pocotó, minha éguinha pocotó..." "créu, créu, créu, créu..." "rebolation, rebolation."
Ah não gente, parei, vocês já entenderam né? Tenho medo de ficar escrevendo e elas se unirem numa espécie de complô e se tornarem mais fortes e invencíveis.
Fiquei pensando naqueles que compram os cds, e cantam e dançam, procuram o estrago com as próprias mãos. Lembrei das musiquinhas infantis, pelo menos estas, formatam o cérebro das crianças com alguma coisa construtiva (algumas). Das propagandas que se eternizaram por causa da trilha sonora e nos fizeram consumir; Danoninho, Batom até Biotônico, e toda espécie de produtos. E ainda estão ai os jingles da política, que usam muitas das músicas inúteis, para facilitar a memorização e quando menos esperamos estamos repetindo o número, o nome e o slogan de algum candidato desconhecido (até agora).
O inconsciente é um mecanismo perigoso, absorve o que é oferecido, seleciona com critérios estranhos, e é controlador.
Ah, não teve jeito, eu desisti, porque quanto mais pensava na idéia de vencer o inimigo, mais forte ele ficava. Funcionou, quando me dei conta, tinha sumido, melhor não comemorar muito, nem pensar muito na vitória, senão o derrotado ressurge.
Mas fiquei incomodada, como pode uma coisa dessas?
Meu inconsciente não tem gosto!


'Kelly Rodrigues

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

iiiiii .... DEU BRANCO....

Hoje passei o dia tentando escrever alguma coisa, mas parece que a coisa não quer fluir...Revirei minha gaveta de memórias, meu baú de recordações, meu diário de saudades, mas hoje a coisa não quer coisar mesmo...

Inspiração é um negócio estranho demais, quando você menos espera a coisa vem num “plim” prontinho na sua cabeça, daí é só preparar o lápis e o papel e as idéias vão se organizando nas linhas, sozinhas, como se tivessem vida própria (um desaforo inspiração ter vontade própria), como se precisassem apenas de um instrumento (nós) para se codificarem em forma de palavras e expressões.

Não adianta forçar, espremer, apertar, porque daí a coisa não sai do lugar, ela vem sorrateiramente na hora que bem quer, às vezes fica horas conosco, outras vezes vem como se buscasse fogo, rápida e sagaz, e é tão veloz que se esvai num piscar de olhos, sem ao menos deixar rastro ou pista para ser seguida.

É um dom, um mistério, uma graça, ela chega e baixa como um espírito procurando um corpo para se apossar, e detalhe, não precisa ser invocada, ela chega sem pedir licença, deita, e se esparrama no seu pensamento. Seus pés ficam preguiçosamente virados para o ar, com a ponta dos dedos cutucando o cérebro, a fim de transmitir-nos suas ondas neuroinspiradoras (viajei na maionese!).

Inspiração não se compra em supermercado, se vendesse eu compraria uma tonelada hoje. Como pode uma coisa dessas?! Parece que sumiram todos os motivos, os temas, as expressões, as frases, as palavras, minha alma se calou e isso já ta me dando dor de cabeça. Será que eu morri e não tô sabendo? (continuo viajando) Empenhei logo meus dedinhos num contorcionismo descomunal (beliscão), provocando certo desconforto em meu braçinho franzino, confirmando (graças a Deus) que a vida ainda permanecia em mim.

Eu sempre fui meio cética quanto ao significado da palavra inspiração, para mim era o simples ato de sugar o ar para dentro dos pulmões e nada mais, mas estou percebendo que realmente existe essa segunda opção de definição e, sinceramente, queria só um pouquinho dela hoje para transcrever minhas emoções.

Realmente, a coisa que faz o meu cérebro criar expressões belas e extravagantes não quer coisar nada hoje, acho que nem se a vaca tossir e o boi disser “saúde”, minha mente vai produzir alguma coisa realmente interessante de se ler. E é com toda essa certeza de que minha mente está às moscas que entrego meus pontos, vou descansar meus olhinhos e esperar o milagroso “plim” da minha amiga inspiração, daí quem sabe ... tô pagando pra ver...

'Glenda Barros

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

CARA DE PAISAGEM...




Acho que a inveja é um demônio, que vê sua própria imagem refletida e fica tão horrorizado com o que vê que fica arranhando e se estranhando diante do seu próprio reflexo, como um gato diante de sua imagem no espelho. Falar palavras negativas e pessimistas no intuído de sufocar os sonhos alheios é uma característica dessa entidade das trevas, que esperneia, raivosamente, sua inferioridade e podridão como sentimento quando visualizam o bem do outro.

Pessoas invejosas são dignas de pena. Pra esse tipo de gente, a felicidade alheia é algo insuportável de se ver, quem nunca foi vítima de gente assim, atire a primeira pedra! Em todo lugar se vê pessoas assombradas por esse tipo de sentimento, e o que é pior, essa praga tem adquirido proporções pandêmicas.
Outro dia, saindo no portão de minha casa, minha mãe comentou com uma vizinha a expectativa de meu pai em abrir seu próprio negócio; a tal vizinha, na tentativa de estragar nossa alegria (tentativa frustrada), entortou a boca pro lado e numa expressão facial mais do que infeliz, proferiu as seguintes palavras: - eu conheço uma pessoa que tentou algo assim, e foi parar no fundo do poço! – aquelas palavras foram como tiros de metralhadora nos sonhos de minha mãe. Ela se despediu amigavelmente, e saiu cabeça baixa, em direção a minha casa. Minha vontade era de partir pra cima da fulana e enfiar aquelas palavras dela goela abaixo, alguma força divinal me segurou aquele dia, a fúria era grandiosa, o sangue me subiu todo pra cabeça.

Chegando em casa, minha mãe começou a relembrar o fato e a questionar se daria ou não daria certo o novo negócio, eu, extremamente revoltada com aquela situação, virei pra ela e disse – mãe, é por isso que Deus nos deu um par de ouvidos, entra num e sai no outro – e expliquei a ela, com toda a paciência que eu estava, que pessoas como a tal fulana, deveriam ter seus comentários ignorados e não levados em consideração. Minha mãezinha (coitada) se acalmou e voltou a fazer seus planos e projetos.
Mesmo sendo um demônio influenciador e persuasivo, a inveja não deve ser tratada como tal, muito pelo contrário, o que a mata é perceber que não nos atinge, mesmo que você tenha vontade de apertar o pescoço do fulano (a) ou até mesmo arrancar a sua língua com as próprias mãos, espere, se acalme, respire fundo e seja inteligente; utilize-se de habilidades teatrais como cinismo e um sorriso largo e falso, finja que se importa com sua opinião, faça aquela cara (lerda) de paisagem...

Mas cá pra nós, sejamos honestos, quem nunca sentiu inveja de alguém levanta a mão e dá um grito?! Minha mão se manteve no lugar e minha língua nem pensou em vibrar num berro. Todo mundo sente inveja de alguém pelo menos uma vez na vida, só que alguns controlam e outros não resistem e deixam transparecer, é só essa a diferença. Eu confesso, tenho inveja daquele bocão da Angelina Jolie, inveja da bunda da Jeniffer Lopez e das pernas da Ivete Sangalo e nem por isso elas andam por ai deprimidas e inseguras, ou sem suas características invejadas por mim, o que eu quero dizer é que a inveja não tem poder nenhum sobre nós, o que faz com que seu veneno tenha efeito é a nossa própria mente, que decide ou não acreditar no que ela diz.


'Glenda Barros

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Andróidezinho da mamãe!


Quando eu era criança, minha mãe me dava banho e cuidadosamente escolhia a roupa que eu ia vestir. Eu poderia estar me achando ridícula e brega com a roupa, mas a usava do mesmo jeito, questão de respeito e obediência. Nunca, mas nunca mesmo, ousava levantar a voz para a minha mãe ou para o meu pai, senão a surra comia feio. Antigamente não tinha esse negócio de dar birra pra conseguir as coisas não, se começássemos com uma ceninha do tipo, nossas queridas mãezinhas vinham em nossa direção, segurando numa das mãos, ou um chinelo (pouco provável, dói menos), ou uma cinta (mais provável, dói pra caramba) ou uma vara de amora (quase sempre usada, tem o poder de estraçalhar nossa carne jovem), e a outra mão ficava livre para segurar nossos braçinhos franzinos, evitando uma possível tentativa de fuga. E se persistíssemos no pranto, ela se virava e, apontando o objeto de tortura em nossa direção dizia – engole o choro moleque, ou vai apanhar mais – daí respirávamos fundo e ignorávamos a dor pra não ter que sentir ainda mais.


Hoje a história é um pouquinho diferente, os filhos são mimados, respondões e birrentos. A roupa é do gosto deles, aí daquele que tenta vestir algo neles que não é de seu próprio gosto. Eles aprenderam a dizer não; se não querem, não fazem, nem debaixo de reza brava. Discipliná-los está cada vez mais difícil. Conversar é impossível, não tem mais diálogo, o máximo de conversa que se tem hoje em dia entre pais e filhos se dá, quando o “guri” se vira e diz – eu odeio você mãe! –, ou - eu odeio você pai! – ou então - vocês são ridículos, ODEIO vocês! Dar umas palmadinhas então, agora é caso de polícia, eles podem levantar a mão e a voz para te agredir, e você tem que fazer cara de paisagem e ainda dizer – calma filhinho, a mamãe vai comprar pra você!


Outro dia eu voltava do trabalho de ônibus, e observava uma menininha de mais ou menos uns sete anos de idade, que estava sentada juntamente com sua mãe bem na minha frente. Apesar da pouca idade a peste já se achava dona do próprio nariz, apontava o dedo na cara da mãe e dizia, “eu quero isso e você vai comprar pra mim”. Eu fiquei escandalizada com a cena, pensava comigo mesma “isso não pode ser uma criança, isso é um andróide” (foi a expressão que encontrei, que mais se encaixava com atitude fria e prepotente daquela criança).


Eles estão ficando cada vez mais difíceis e autoritários, e isso tudo acontece porque seus o caminhos estão livres de proibições. Desculpem-me a honestidade, mas, infelizmente, nossos papais e mamães de hoje inverteram os papéis. Para suprir a ausência na vida diária de seus pimpolhinhos, os pais se empenham em não desagradá-los, enchem seus filhinhos de atividades o dia inteiro, de pilhas e mais pilhas de brinquedos, enfiam logo uma chupeta na boca do guri quando ele começa a berrar, e se o cut-cut da mamãe se aproxima e fica grudento, manhoso e carente, tratam logo de empurrar, guela abaixo, um litro de leite quente com alguma mistura, como se o único motivo do choro incontrolável, da carência excessiva e do grude fosse fome.


Se as crianças estão virando andróides é porque estão sendo tratadas como seres sem sentimento algum, tendo sua percepção subestimada pela maturidade de seus próprios pais que dizem estar fazendo o melhor por eles, nas mamadeiras, óleo ao invés de leite, e no lugar do amor, carinho e atenção, milhares de atividades pré-programadas. A culpa não é do governo que proibiu as palmadinhas educativas, mas sim da geração “piloto automático” que transferiu a criação de seus filhotinhos para alguéns e/ou lugares “especializados” para tal tarefa. Nada substitui a presença e o cuidado de um pai e de uma mãe, e nossas crianças sabem muito bem disso.


' Glenda Barros

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Devagarinho...

Por que temos tanta pressa? A grande maioria das pessoas que conheço e convivo diariamente sofrem da síndrome do “aqui, agora e já”, não saboreiam nem o próprio almoço pra não perder seu precioso tempo, afinal, “tempo é dinheiro”.

Sem perceber, essas pessoas vão passando pela vida na velocidade da luz, atropelando gente pelo caminho, deixando alguns feridos, outros mortos, mas a probabilidade de parar para socorrer ou voltar atrás é praticamente zero, anseia-se mais que a própria vida chegar ao podium no lugar mais alto, ou seja, à realização satisfatória e completa.

Mudou-se o século, mudaram as prioridades. Agora os meus desejos, anseios, carreira vêm antes de minha família, saúde, felicidade (...). Não concordo com o ideal ambicioso e sem escrúpulos de alguns, mas também não apoio àqueles ociosos que vão vendo a vida passar de braços cruzados esperando o maná cair do céu.

É devagar, devagarinho, desse jeitinho que tem que ser, nem rápido demais, nem parado no tempo, é devagarinho, no sapatinho, no miudinho, entendeu?

Deixa a vida te levar no ritmo do samba-canção, assim meio moroso, sutilmente brando e extremamente sentimental, a vida levada nessa batida é muito mais pensada, sentida, apreciada. As chances de se estatelar no chão e ficar com seqüelas graves, são praticamente nulas quando se está devagarinho....

Vai de mansinho, sentindo o gostinho doce de ser feliz, sentindo o ventinho fresco de esperança tocar a face, vai ajeitando uma coisa ali, outra acolá, vai seguindo e planejando, montando as peças, regando os sonhos, o tempo, (Rum!) não é dinheiro, é apenas o prazo da vida. E a vida, meu bem, não tem pressa, não se avexa, não se afoba pra acabar, ela segue no passinho lento, pra te dar tempo de sorrir, e de chorar, de perder e conquistar, de crescer e aparecer, de compor e de sambar...

‘Glenda Barros

terça-feira, 3 de agosto de 2010

O RETRATO DO AMOR



Sentei-me no banco da praça. No pulso o relógio marcava 17h45min, já se podia sentir aquela brisinha mansa e fresca que avisa que a noite se aproxima. Além do horizonte o sol vai se escondendo preguiçosamente, parece que ele faz isso de propósito, só para ficarmos ali, contemplando e degustando cada segundo de sua encenação.
Estagnada com o espetáculo divinal, ouço ao longe uma risadinha, que consegue, milagrosamente, me tirar daquele transe hipnótico. Empenhei minha atenção na busca do dono daquela risada. Meu olhar investigador, que seguia o som dos acordes daquele sorriso, finalmente sintonizou-se na freqüência do mesmo, a cena que aquela trilha sonora embalava encheu meus olhos de graça, quanto amor, quanta ternura havia na expressão daqueles dois malucos apaixonados.
O amor “embobece” mesmo as pessoas; até o jeito de falar se infantiliza. As palavras são pronunciadas de uma maneira tão melosa que, vocábulos mono ou dissílabos, se transformam em longos polissílabos (amÔoooooooor, sabia que eu te amooooooooooooooo), é mel pra mais de metro.
Continuei a mirar o casal que, trancafiados em seu mundinho cor de amor, não percebiam mais ninguém além da imagem um do outro. Ele acariciava o rosto dela lentamente, com se estivesse contemplando a coisa mais linda desse mundo, o toque suave e preciso daquele mancebo apaixonado, iam esculpindo nos lábios de sua amada um largo e doce sorriso.
Seus dedos/pincéis seguiam perdidos por entre os fios negros do cabelo dela, arrancando suspiros de amor de sua alma, que eram perceptíveis no olhar satisfeito, na face envolvente e no arrepio do seu corpo totalmente entregue ao sabor do amor.
O amor é mesmo lindo de se ver! Fiquei encantada com aquela imagem impressa no crepúsculo do dia; registrei aquele momento na memória pra não mais esquecer, meu coração desencorajado, renovou-se em esperança, o amor ainda existe, hoje pude fotografá-lo de longe, sentada bem ali, naquele banco de praça...

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Mulheres maçã




O espaço e a credibilidade das mulheres têm aumentado numa escala magnânima no mundo. Vê-se, notoriamente, que estamos ficando cada vez mais independentes, despojadas, batalhadoras, conquistadoras e ... SOLITÁRIAS, isso mesmo, sozinhas e desprezadas pelo sexo oposto.
As mulheres mais inteligentes e interessantes que conheço sofrem de “solteirice crônica”, parece que arranjar alguém que as queira como namorada é algo tão difícil, que só Deus teria chances reais de êxito, ou seja, só mesmo um milagre as tiraria desse poço de solidão.
O chato da solteirice não é nem o fato de nossa vida sentimental estar continuamente sendo conjugada no singular (falei bonito), mas sim a insistência das pessoas em não te deixar esquecer tal condição. Nossas mães, tias, primas, avós (essas são terríveis), manicures, cabeleireiros (as) e todas as pessoas que convivem conosco, simplesmente tomam nossas dores e vão, literalmente, a caça por nós.
A prova disso se dá quando, vez ou outra, somos apresentadas, “casualmente”, a um infeliz qualquer com cara de nerd (nada contra os nerds), olheiras profundas e marcantes e uma timidez tão opressora que o paralisa bem diante de nós, e o pronunciar de um simples "oi" parece exigir-lhe capacidade mental bem maior do que a que o próprio possui.
E não me digam que estou exagerando, é só olhar em volta e reparar bem direitinho. Elas são lindas, sensuais, bem sucedidas financeiramente, mas são grandes colecionadoras de relacionamentos relâmpagos e fracassados. Bastam apenas cinco minutinhos de conversa, para que elas se abram e, em pranto, confessem que largariam tudo para se casar, ter filhos e morar na roça (hipérbole!)...
Legiões de mulheres carentes estão sendo formadas pela escola da vida, e não satisfeitas com a graduação, estão se pós-graduando no mercado de trabalho.
Nosso saudoso Machado de Assis equiparou essas mulheres a maças em árvores, cujas melhores estão no topo, ele só não esperava que a coragem dos homens diminuiria tanto e que as tais macieiras cresceriam monstruosamente. Ehhh minhas amigas, parece que estamos no alto de um jequitibá, inalcançáveis, inatingíveis...
Homens, cresçam e apareçam! Não tenham medo de ralar os joelhos, de desfazer os topetes ou de amarrotar suas roupas; lembrem-se que as melhores estão no topo, e nós aqui em cima garantimos, o gosto do nosso amor é bem mais suave e doce.

‘Glenda Barros

terça-feira, 27 de julho de 2010

O SENTIDO DA VIDA

A saudade, ao contrário do que todo mundo diz, não é um sentimento muito bom, afirmo com todo certeza, pois, se fosse bom, não iríamos querer findá-lo em nossos corações com uma visão ou um abraço apertado daqueles de quem sentimos saudade. Podem até achar que meu ponto de vista é um tanto extremista, mas não podemos negar fato de que lembranças jamais substituirão um toque de afeto, e nem tão pouco poderão suprir a ausência de alguém que tanto amamos.


Saudade, e só saudade é o que sinto nesse momento...

Queria muito que o dia de hoje fosse um sonho, queria poder me beliscar agora e acordar desse pesadelo, pois minha querida e doce vovozinha faleceu, e eu nem pude lhe dar um último adeus (o porquê é uma história longa que prefiro não falar). Aquele sentimento que eu sempre dizia ser bom e gostoso, pra mim hoje é o pior que já senti. Queria tanto tê-la de volta, mas diante da morte consumada o sentimento que predomina no peito é de impotência, de incapacidade.
Todos nós sabemos que a vida continua e que as coisas seguirão seu fluxo normal, sabemos também que a morte existe e que um dia todos nós a enfrentaremos, mas o curioso é que, temos plena consciência disso tudo e mesmo assim não deixamos de sentir uma imensa dor desconfortável no peito; que é como se uma mão enorme segurasse nosso coração e o apertasse numa pressão tão forte que chega a faltar o ar. O fato agora é que, o que antes era uma falta que poderia ser suprida quando quiséssemos, agora é uma ausência permanente que nos proporciona como conseqüência, uma saudade crônica e incurável.
Passar por esse momento me fez refletir sobre uma questão. Acho que é uma indagação feita pelo menos uma vez na vida por qualquer pessoa. Quem nunca parou pra pensar em qual o sentido da vida? As pessoas filosofam sobre isso, vão em cima e embaixo para tentar explicar algo tão simples. Eu prefiro pensar no sentido mais puro da palavra, SENTIDO = DIREÇÃO. No meu humilde ponto de vista, o sentido da vida é pra frente, e penso mais; aqueles que entendem isso são bem aventurados.

A dor de perder alguém é algo tão grande que palavras não conseguem descrever, saber que nunca mais em sua vida você poderá ter o abraço daquele ente querido, ou poderá visualizar o sorriso dela, ou simplesmente ouvi-la. É uma dor que, honestamente, paralisa nossos sentidos, a vontade que se tem é a de ter o poder de parar o tempo, para não sentir mais o gosto amargo de perder alguém.
O ser humano é um milagre mesmo. Somente Deus pode ter sido o criador de tal criatura, pois mesmo diante de uma dor assim tão terrível, ainda consegue permanecer de pé e seguir em frente. Hoje eu posso dizer que entendi o sentido da vida, e pretendo segui-lo até que ele seja interrompido naturalmente pelas circunstâncias adversas. Não podemos parar o tempo, e nem se pudéssemos teríamos o direito de faze-lo, pois além de nos privar de muitos outros momentos, estaríamos extraindo de várias outras pessoas esse mesmo direito de viver e sentir emoções. O mais sensato a se fazer, é seguir em frente e procurar nas lembranças o consolo da dor e a força para continuar a caminhar.

“A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar” (Rubem Alves).

In Memoriam Natalia Barros de Sousa

‘Glenda Barros

terça-feira, 20 de julho de 2010

Festa de Família



Festa de família é sempre um espetáculo, além de reunir a parentaiada toda, se vê e ouvi muita coisa interessante. Eu sempre aproveito esses momentos pra me inspirar e escrever alguma coisa, a maioria de meus textos surge de conversas nesse tipo de festa.

O engraçado é que eu nunca tinha parado pra escrever sobre a festa em si, mas sim, sobre fatos e acontecimentos isolados, ocorridos nela. Então resolvi corrigir essa falha, e relatar aqui, para meus amigos leitores, como é uma festa de família.

Bom, toda festa de família tem aquele sujeito que faz todo mundo rir, conta piada de tudo, fala o que deve e o que não deve, é o palhaço da família, se ele não estiver presente, a festa perde a graça. Nessas mesmas festas também tem aqueles sujeitos que são, ou se tornaram “gente grande” na vida, que contam vantagem de tudo, que se acham “superiores” a qualquer um e que todo mundo fica de longe olhando e sussurrando – mas o fulano ficou chato hein! – ; existem também aqueles “menos favorecidos” financeiramente, que se auto-julgam “inferiores” e permanecem distantes e excluídos das conversas, se dizendo leigos e ignorantes demais para qualquer tipo assunto.

Não sei na casa de vocês, mas nas festas lá em casa sempre tem aquela tia (mal amada) que toda vez que te vê pergunta – e ai, tá namorando? – (isso, meus amigos, é uma afronta a minha solteirice de alguns meses), mas você, não sendo ignorante ou mal educado responde numa boa, - não tia, estou solteira por opção! -; só que, não satisfeita, a infeliz continua te alfinetando com perguntinhas do tipo – ué, parece que você engordou? Que você fez no cabelo? Tá tão ressecado. – enfim, você chega se sentindo linda e maravilhosa e sai se achando gorda e louca pra ir a um salão de beleza fazer banho de brilho.

Além dessas tias questionadoras, também existem os puxadores, isso ai, puxadores; eles puxam a fila para o jantar, quando todo mundo fica com vergonha de ser o primeiro; puxam a conversa; puxam o saco dos avós, tios, primos, penetras, empregados; puxam o tapete, quando aquele moleque danado está passando só pra ver a queda dele; puxam o “PARABÉNS PRA VOCÊ”; puxam também o “COM QUEM SERÁ QUE O FULANO VAI CASAR?”...Enfim, ah, já ia esquecendo; em toda festa de família tem criança, e muita criança, umas muito bem educadas e meigas, outras tão irritantes e birrentas, que me fazem lembrar uma frase que minha mãe sempre diz “filhos são como puns, a gente só suporta os nossos”...(que comparação!)

Deixar de ir a uma festa de família, pode não ficar bem, afinal, a família vem em primeiro lugar; um conselho; largue tudo e vá, pois, como minha linda mãezinha diz, “quem não ta na roda, roda”, além do mais, vamos combinar, como é divertida a tal da festa de família; sempre presenciamos cenas de drama, comédia e até romance, mas no fim tudo é festa, tudo é alegria, tudo é FAMÍLIA.



'Glenda Barros'


segunda-feira, 19 de julho de 2010

E mais um conto: "Amor de Verão"

Férias! De malas prontas e contas pagas, coloquei meu pezinho na estrada. O destino final era Tocantins, casa de parentes. Fomos eu, meus pais, minha irmã e minha doce e meiga prima. Saímos as 4:00h da madrugada, animados, ansiosos; riamos até da cara amarrotada de sono que estávamos...só alegria e sorrisos.
No estradão desse meu Goiás, só cerrado e belas paisagens, e como não poderia faltar, aquela paradinha na beira da estrada pra olhar o sol nascendo redondo e alaranjado, saboreando uma bela farofa de carne seca e um cafezinho, quentinho, passado com coador de pano tradicional, armazenado numa dessas garrafas térmicas comuns. Até algo assim tão simples, parece que tem um sabor mais gostoso quando estamos de férias.
Depois de longas horas na estrada, chegamos. Fomos recepcionados calorosamente por minha tia, tio e primos, abraços apertados e declarações de saudade e amor. Chegamos por volta de 16h:30min, e como estávamos de férias, nada de descanso; no mesmo dia fomos a um jantar na casa de um de nossos primos. “Maria Isabel” (arroz com carne seca) com ovo e muita conversa fiada. Estávamos nos divertindo pra valer, quando chega uma figura simpática, meio tímida, e que me chamou a atenção. Minha prima, sempre muito educada, me apresentou o tal moço, que me cumprimentou com um aperto de mão e um beijo leve na maça do rosto (Ai que homem cheiroso, pensei). Devidamente apresentados, conversamos por alguns poucos minutos, pois eu e minha família já estávamos de saída. Me despedi e fui embora. No dia seguinte fomos passar o dia em uma chácara de minha tia, belo lugar, rodeado de pés de caju e bem pertinho do lago. Santo lugar, santo remédio para o estresse da cidade grande. Os homens foram pescar e as donzelas ficaram para preparar o rango. A macharada chegou e as panelas já estavam na mesa, comemos, e comemos muito, parecia que nunca havíamos comido na vida. Depois da comilança, como é de praxe, bate aquele sono lascado, daqueles que você tenta, mas não agüenta ficar de olho aberto. Caí numa rede enorme, num sono mais que profundo, apaguei e nem vi o dia passar. Algumas horas se passaram e eu acordei, com a vista ainda meio embaçada avistei o tal moço do outro dia, sentado numa dessas cadeiras de bar, a alguns metros da rede onde eu estava. Só pode ser sonho, pensei, mas não, era ele em carne, ossos e toda aquela beleza. Fiquei desesperada, ajeitando o cabelo e a cara. Levantei-me e o cumprimentei ligeiramente. Vamos tomar banho no lago! Berrou minha tia, toda pronta já. Nos vestimos e saímos em direção ao lago, sedentos por um mergulho, tava um calor de matar. A água estava uma delícia, temperatura ideal, e lá vem ele (ai Jesus!), sentou-se calmamente do meu lado e perguntou; − Tá tudo bem ai? E eu quase que não respondo, tão fascinada que eu estava por aquele belo par de olhos cor de jabuticaba; −Tá sim! E não passamos daquelas palavrinhas naquela tarde. 18h:00, hora de juntar as tralhas e voltar a cidade, a programação era cachorro quente e truco na casa de minha tia a noite. (Chegamos) Tomei meu banho, coloquei meu vestidinho estampado e fui jogar com a galera. Por volta de 21h:30min quem chega? É, ele mesmo, (esse cara tá me perseguindo, só pode) o tal moço veio atendendo ao convite de meu primo (sei!). Cumprimentou-me e sentou-se pra brincar também. Foi ficando tarde, e é claro, as pessoas vão saindo uma a uma. Restaram na sala eu, minha prima, minha irmã e ele, o fulano do outro dia. Continuamos a brincadeira, meus pais e tios se recolheram para dormir. Depois de longas horas de conversa e muitos bocejos ele decide, “tenho que ir”, (mas já? pensei comigo). Minha prima, muito esperta por sinal, se levanta, e apontando o dedo em minha direção diz: − Leva ele até a porta, por favor. E eu, balancei a cabeça positivamente. Peguei as chaves, e fui com ele até o portão. Naquele momento, minhas mãos estavam tão frias e trêmulas que entregavam a ele meu nervosismo e expectativa. Ele segurou minha mão e disse: − Gostei muito de te conhecer, você, sinceramente, mexeu comigo. Eu quase fui à loucura quando ouvi isso, meu coração parecia que ia explodir de tanta felicidade. Tenho que me recompor, pensei, diminui o sorriso e disse, também gostei muito de ti, muito mesmo. E eu, achando que não ia passar de palavras me despedi, “então tchau viu, até qualquer dia!” E ele, com toda aquela confiança de homem, disse: − Eu queria uma lembrança sua. E depois dessa frase, veio em minha direção e foi se aproximando devagarzinho, sem pressa, o cheiro dele ia ficando mais forte e eu, cada vez mais nervosa, chegou o mais próximo, segurou-me com uma das mãos pela cintura e a outra posicionou levemente no meu rosto e pronto, o beijo. Dois dias inteiros de tentativas e conversas e o beijo não durou mais que 10 segundos. Após aquele breve momento de paixão, ele se distanciou, sentou-se em sua moto e disse; − Nos vemos amanhã? E eu com um sorriso enorme no rosto, apenas balancei minha cabeça em sinal de “é claro que sim”. Ele foi, e eu fiquei ali, o seguindo com os olhos até que ele sumiu no fim da rua. As lembranças e o gostinho de quero mais ficaram no meu coração, e ainda hoje, me lembro daquele meu amor de verão.


Glenda Barros